quarta-feira, 14 de julho de 2010

Andadores: bons ou ruins?


Novo estudo mostra que andadores não ajudam nem atrapalham o desenvolvimento motor das crianças. Pediatras não recomendam o uso.

Os andadores infantis são sempre polêmica entre pais, médicos e fisioterapeutas. Aflitos e cheios de dúvidas, os pais se dividem entre os que acreditam que o equipamento estimula o desenvolvimento da criança e, no lado oposto, aqueles que vêem no instrumento um perigo tanto para a coordenação motora dos bebês como para os riscos de queda.


Não recomendado por pediatras – eles acreditam que o equipamento atrapalha o desenvolvimento do equilíbrio e da marcha das crianças – os andadores foram estudados por uma professora da Faculdade de Fisioterapia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Paula Silva Carvalho Chagas pesquisou os efeitos do uso do andador durante o doutorado no programa de pós-graduação em Ciências da Reabilitação da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).


As conclusões de Paula reacendem a polêmica. Ela não encontrou nenhum dado que comprove prejuízos ao desenvolvimento dos bebês por causa do equipamento. A pesquisadora também concluiu que não há evidências sobre benefícios às crianças. Fisioterapeuta há 12 anos, Paula conta que, antes de começar o próprio estudo, procurou referências na literatura científica sobre o tema. Segundo ela, as pesquisas não recomendavam o uso, mas não apresentavam embasamento científico nas justificativas.


Ela acompanhou durante nove meses 40 famílias: 20 que decidiram usar o equipamento e 20 que optaram por não utilizá-lo. O andador não foi recomendado pela fisioterapeuta a nenhuma delas. As famílias começaram a ser analisadas pela pesquisadora quando os bebês estavam com nove meses, em média. Além de observar o desenvolvimento motor das crianças, Paula fazia avaliações para verificar como as crianças estavam andando. Durante seis meses após começarem a andar sozinhas, os bebês passavam por testes.


Paula conta que foram observadas a maneira de andar das crianças, a habilidade em subir rampas e o relato dos pais. O resultado é que não houve diferenças no processo entre os grupos. “Todos os bebês apresentaram desenvolvimento normal, aprendendo os movimentos corretamente em um tempo adequado”, afirma Paula, que foi orientada pela professora Marisa Mancini, do Departamento de Terapia Ocupacional da UFMG.


Segundo a pesquisadora mitos foram desfeitos com os resultados: as crianças não andavam na ponta dos pés, com pernas mais ou menos abertas, não se jogavam para frente ao caminhar e nenhuma das crianças andou mais cedo ou mais tarde por conta do uso do andador. “A verdade é que o equipamento não faz mal ou bem para as crianças. A única coisa divergente no estudo era a opinião dos pais que defendiam ou criticavam o uso do andador”, diz Paula.

A pesquisadora ressalta que o grupo que optou pelo andador não deixava as crianças muito tempo no equipamento. No máximo, uma hora por dia. Além disso, as famílias possuem boas condições socioeconômicas. “Não sabemos as implicações de uso mais

prolongado do andador pelas crianças, por exemplo”, destaca. Paula ressalta que uma das ideias mais difundidas contra o andador era a que ele aumentaria as chances de queda das crianças. “Percebemos que isso acontece muito mais por negligência dos pais do que por causa do equipamento”, diz.

Na opinião da fisioterapeuta, os resultados poderão contribuir para que a decisão clínica de optar pelo uso do andador ou não seja feita com base em dados científicos.

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